História Do Hip Hop Brasileiro [Biografia]

O Rap chegou no Brasil no final dos anos 1980, com grupos de periferia que se reuniam na Galeria 24 de maio e na estação São Bento do metrô de São Paulo, lugar onde o movimento punk começava a surgir. Nesta época, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia. Os primeiros a frequentarem o local foram os dançarinos de
breakdance.
O dançarino Nelson Triunfo é considerado um dos primeiros dançarinos de breakdance do Brasil.

Dentre estes b-boys, muitos acabaram decidindo serem rappers. Apelidados de "tagarelas", tiveram que se mover para a Praça Roosevelt porque houve uma divisão de grupos para cada um continuar difundindo um pilar da cultura hip hop em cada lugar. Pouco tempo depois, os rappers tornaram-se os principais representantes do movimento no Brasil.
Foi de colaboração essencial para o desenvolvimento do rap no país a apresentação do popular grupo americano Public Enemy, em 1984. Através dele foi apresentado o rap a um numero grande de pessoas e começou a se difundir rapidamente entre a periferia dos grandes bairros. Em 1987, foi lançada "Kátia Flávia" pelo cantor e ator carioca Fausto Fawcett, considerado o primeiro rap do respectivo estado. O primeiro álbum exclusivo de rap brasileiro que se tem notícia é A ousadia do rap, lançado em 1987 pela equipe Kaskastas. Em 1988 é lançado Hip Hop Cultura De Rua. Nele foram apresentados artistas como Thaíde e Dj Hum, MC Jack e Código 13. O destaque ficou por conta de Thaíde, que interpretou os clássicos versos: "Meu nome é Thaíde /Meu corpo é fechado e não aceita revide". As bases do disco eram baseadas em funks americanos e acompanhadas espontaneamente de scratches feitos pelos os DJs.

No mesmo ano, a segunda coletânea foi lançada e projetou um dos maiores grupos da história do rap brasileiro, os Racionais MC's. Consciência Black, Vol: I, reuniu oito faixas, dentre elas "Tempos Difíceis" e "Racistas Otários" dos Racionais MC's. Formado por Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay, o grupo apresentou para a mídia um rap voltado mais para a desigualdade na periferia e as injustiças sociais como racismo. Com a mudança na política da capital paulista, foi criada em agosto de 1989 a MH2O, abreviatura de Movimento Organizado de Hip Hop no Brasil, que posteriormente se tornaria uma organização não governamental e estando presente em quatro das cinco regiões do país.
Este movimento organizou a cultura hip hop, dividindo em seus principais pilares e organizando as primeiras oficinas culturais. A MH2O pode ser considerada como a responsável pelo novo tema abordado nos raps, que antes eram feitos com base em piadas e histórias quaisquer. Em 1990, os Racionais MC's lançaram o seu trabalho de estreia, intitulado Holocausto Urbano, através da gravadora Zimbabwe Records. Foi lançado em formato de LP e contava além das duas músicas da coletânea anterior com "Pânico na Zona Sul", "Hey Boy", "Beco sem Saída" e "Mulheres Vulgares". Lançaram também Escolha seu Caminho em 1992 e Raio X Brasil, em 1993. Este último foi considerado o marco da propagação do rap na música brasileira, fazendo os Racionais MC's, atrairem mais de 10 mil pessoas por show. Tal fato fez o grupo abrir um espetáculo show do grupo norte-americano Public Enemy. As músicas "Fim de Semana no Parque" e "Homem na Estrada", contidas em Raio X Brasil foram as primeiras de rap "alternativo" a serem executadas nas rádios brasileiras.

Em 1993, no Rio de Janeiro, MV Bill participou da coletânea Tiro Inicial, que foi crucial para que seguisse na carreira de rapper. Mas seu primeiro álbum, Traficando Informação, só viria em 1999. Com esse álbum MV Bill recebeu o Prêmio Hutúz de 2000, na categoria álbum do ano.

Também no Rio de Janeiro e em 1993, surgiu o Planet Hemp, liderado por Marcelo D2, com uma espécie de rapcore, misturando elementos do rap com reggae e rock. Seu primeiro álbum, intitulado Usuário, recebeu disco de ouro por 140 mil cópias vendidas. A sua temática foi bastante repreendida pelas autoridades da época, que censuraram o videoclipe de "Legalize Já", uma clara apologia ao uso da maconha. O entorpecente era tema recorrente nas letras do Planet Hemp, que possuía uma postura totalmente favorável à sua legalização e uso, começando pelo próprio nome do grupo.

 
Nessa mesma época, surgia Gabriel o Pensador com a demo "Tô Feliz (Matei o Presidente)", que foi censurada cinco dias após o lançamento. Apesar disso, logo depois o rapper assinou com a Sony Music e lançou o seu primeiro álbum homônimo, que alcançou grande sucesso no mainstream com músicas como "Lôrabúrra", "Retrato de um Playboy" e " 175 Nada Especial ",
sendo que a última possuía um videoclipe vinculado na televisão com a participação de diversas personalidades, como o jogador de futebol Ronaldo.

 
Ainda naquele ano no Brasil, o Facção Central, principal nome do gangsta rap brasileiro, lançou o álbum de estréia Família Facção seguido por Juventude de Atitude, de 1995. Com uma temática muito mais pesada que a da maioria dos grupos do hip hop brasileiro, o Facção Central trata na totalidade de sua discografia sobre a violência, crime, pobreza e repressão policial nas favelas do Brasil. O álbum Versos Sangrentos de 1999, foi um dos mais polêmicos. As composições fortes de Eduardo Taddeo combinadas com o videoclipe de "Isso aqui é uma Guerra" vinculado na MTV, tiveram suas gravações confiscadas, tendo sua exibição proibida pelo Ministério Público, que abriu um processo contra os integrantes do grupo. O casamento da letra com as imagens resulta num filme de horror."  Este facto acabou trazendo ainda mais popularidade para o grupo e sua temática principal, que hoje é considerado um dos maiores nomes do hip hop brasileiro.

 
Diversos outros grupos  de grande importância para o hip hop brasileiro surgiram na década de 1990, entre eles Face da Morte, Detentos do Rap, Realidade Cruel e Sistema Negro.

 
2002 o rapper Sabotage proveniente da Zona Sul de São Paulo lançou seu álbum de estreia Rap é Compromisso pela gravadora Cosa Nostra. Sua carreira promissora chegaria ao fim já em janeiro de 2003, quando ele foi assassinado. Tornou-se se uma lenda no hip hop brasileiro.

 
Nos anos finais, apareceu rappers que contribuíram muito para renovar o hip hop brasileiro. Com estilo ágil e letras mais variadas (não só sobre crime e condições de vida em subúrbios e favelas) mas mantendo o espírito underground e a consciência social, artistas vinculados a "Laboratório Fantasma" como o
Emicida, Rashid, Projota, Criolo Doido e Kamau são os nomes mais destacados da nova escola do hip hop brasileiro. Alguns desses artistas, como o Emicida, começaram sua carreira artística nas batalhas de MC's. A participação do Emicida nas Tv brasileiras evidenciou o facto do rap brasileiro ter ganhado um importante espaço na mídia e na sociedade brasileira, presente diversas vezes na lista trending topic mundial no Twitter.

 

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